De súbito os azuis. Trazidos pelas mãos do mar, pelos olhos dos recém-chegados. Nem por isso menos inquietantes, as telas confundem-nos de evolução, de ruptura dinâmica, de procura. Os temas clássicos ainda lá estão, mas libertam-se de limites. Já não confinados, convivem com as figuras de uma época diferente( ), como se fossem estados de alma, assombrações ou, quem sabe esqueletos no armário. Isso, porém, não parece incomodar os novos habitantes. Como a dizer, que o tempo não existe, partilham o espaço, numa cumplicidade que o mar justifica. Mesmo quando, finalmente, desaparecem( ), a sua evocação ainda lá esta . Ninguém é somente o que aparenta, mas a intersecção no outro( convite ). E a luz do poente a confirmá-lo. Se o vermelho surge( ) inquieta-nos ainda mais. Remete-nos para uma explosão de sangue e vida que nos avisa de que o amanhã será diferente mas não menos complexo.
O olhar fica preso. Procura-se numa tela a explicação da outra e não se encontra. Se o sorriso dos noivos ( ) nos tranquiliza, logo o seu fantasma nos perturba. Se o mar, na sua luz dourada nos acalma, logo os braços de outra era( ) nos estrangulam. Se a Natureza responde, os humanos interrogam. Se os azuis nos sorriem, os vermelhos alertam.
A Ana ( ) vem devagar, em plena tela, a pedir que fiquemos, que procuremos as respostas. Mas onde encontrá-las a não ser no nosso próprio coração? É, porém, da natureza da inquietação confundir as conclusões e o coração não contesta. Não, enquanto o olhar deambula de cor em cor, de espaço em espaço, de horizonte em horizonte. Horizontes novos, alargados como promessas. Não, enquanto nos apetece ficar aqui, a garimpar, não sei porquê, saudades do futuro, como aquele homem solitário e magoado( ), tão comovente que nos obriga a procurar refúgio no círculo do sonho( ) em busca de outra ficção que a areia esconde.
De súbito, os azuis.
Rosa Lobato de Faria
18-Março-2006