Quanta luz, quanta cor, quantas imagens estilhaçadas pode a memória guardar
no coração e na cabeça?
De que infância, de que lugar onírico, de que aprendizagem esquecida, surge o
encontro, o reconhecimento, a cumplicidade com um caos partilhado?
Ancestral, telúrica, quase pura, quase erótica, a vibração das cores primárias.
Depois os tons compostos dedilham uma partitura de sons, evidenciam o que
escondem e aos poucos deparamo-nos com o conhecido, o tranquilizador, o nosso:
mãos femininas, a boca adolescente oferta de quadro em quadro, apontamentos
de anjos, rastos de poetas, a bilha de barro milenar, a água primordial. E a fruta.
Sensual. Trincável. Matinal e bíblica.
Talvez o pão, talvez o fogo.
Os tecidos palpáveis, os cabelos apaziguadores das mulheres.
E a explosão de tudo, que António Oliveira Tavares transforma em telas para o nosso
prazer, deslumbramento e inquietação.
Rosa Lobato de Faria
13 de setembro de 2003